Analisar a devoção ao Divino Espírito Santo na comunidade de Ganchos do Meio é perceber mais do que uma manifestação da cultura popular local. É vivenciar o passado e o presente do culto à Terceira Pessoa da Santíssima trindade, que se realiza na maioria das cidades do litoral de Santa Catarina, sendo este vivido com grande intensidade e emoção por adultos e por jovens que o aguardam sempre com ansiedade.
A festa do Divino Espírito Santo é comemorada entre os meses de julho e agosto, sempre após a safra da tainha, quando os pescadores voltam da pescaria. Pode relacionar-se o seu sucesso à faina pesqueira. Falar da festa é referir um grande evento do qual participam como festeiros, na sua maioria, filhos de pescadores que poupam recursos financeiros para pagar mensalmente os custos da confeção das roupas e demais despesas provenientes do evento.
Para um pescador, habituado às dificuldades do seu dia-a-dia, viver esta experiência é muito gratificante. No início, as primeiras festas eram comemoradas de forma modesta. Porém, com o passar do tempo, estas foram atraindo a atenção dos moradores e visitantes, pelo que se tornaram num dos mais importantes momentos/meios de integração da comunidade.
Analisando e comparando documentos com relatos orais, concluímos que a primeira festa em honra ao Divino Espírito Santo foi realizada em Ganchos no dia 30 de maio de 1920, conforme registou, em seu caderno de anotações pessoais, o senhor Manuel Januário dos Santos, responsável pela capela na época.
No dia 30 de maio, do ano de 1920, foi celebrado o culto do Espírito Santo, o qual teve coroação, imperador e padre espadim. Este foi efetuado no domingo da Trindade e o imperador coroado foi o Pedro, filho do senhor Francisco Pedro Costa, e o padre espadim. A filha do senhor Leonardo Thomas Cândido foi a imperatriz. A festa foi realizada pelo padre Bernado Frichter, Pároco de Tijucas.
Esta tradição foi atravessando o século XX e mantendo os seus ritos: três dias de missas antecedidas de novenas, procissões luminosas, pagamento de promessas, cantoria de foliões, culminando com o coroamento do imperador no domingo da festa. Paralelamente, decorriam as festividades profanas, constituídas por bailes, quermesses, queimas de fogos-de-artifício, barracas que vendiam doces, e promoviam brincadeiras, muita dança e diversão, rompendo, assim, a rotina dos moradores que se preparavam para a festa, participando das novenas que aconteciam na casa do imperador e da imperatriz. As primeiras festas do Divino Espírito Santo de Ganchos inspiravam-se nas que eram promovidas pelas capelas de Tijucas, São Miguel e Santo Amaro da Imperatriz, onde este culto já era tradicional. Tomamos como exemplo a festa de Santo Amaro da Imperatriz que se vem realizando, desde maio de 1854.
As roupas utilizadas eram alugadas ou confecionadas por costureiras do lugar. As festividades eram promovidas pelo pai do imperador que custeava todas as despesas, muitas vezes hospedando o padre e o folião na sua residência. O ritual era complexo e os preparativos para a festa eram realizados com antecedência. O padre era solicitado pelos organizadores e vinha de Tijucas, Santo António de Lisboa e Biguaçu. Os foliões, grupo de entoadores de cânticos, eram da comunidade de Ganchos do Meio e Ganchos de Fora, outros deslocavam-se também de municípios vizinhos.
O senhor Bernardo (Ganchos de Fora) e a Senhora Odete (Ganchos do Meio), juntamente com seus camaradas na rebeca e no tambor de som abafado, davam o tom dos procedimentos. Cada passo dos festeiros era ditado através dos versos que emocionavam a todos.