Irmandade do Divino Espírito Santo dos Biscoitos

País: Portugal
Região: Açores
Local: São Jorge
Concelho: Calheta (S. Jorge)
Freguesia: Calheta
Morada: Largo da Igreja Biscoitos 9850 - Calheta São Jorge
Telefone: 965643901 (Sr. António Guimarães)
E-mail: adg@cm-calheta.pt
Festa proposta por:
Nome: Município da Calheta
E-mail: adg@cm-calheta.pt

“A devoção ao Espírito Santo é, desde há muito, uma constante na vida das nossas populações, sendo estas festas aquelas que melhor mostram o sentido de partilha e solidariedade. No lugar dos Biscoitos, um pequeno curato na paróquia de Santa Catarina, freguesia da Calheta, é bem percetível esta tradição.
Com o Império em louvor do Divino Espírito Santo construído em 1886, a irmandade do Divino Espírito Santo com estatutos formados, surge, muito mais tarde, já no século XX. As festas iniciam-se no Domingo de Páscoa com a transferência da coroa do império para casa do mordomo, onde fica durante a semana, cantando-se e rezando-se o terço, à noite, e terminam no Domingo da Santíssima Trindade. Durante as seis semanas, os mordomos levam para as suas casas as insígnias que são compostas pela coroa com o prato e o cetro, a bandeira, o espadim e 16 varas.
Nestes jantares, eram cozidos, durante a semana, a massa sovada, o pão para a sopa e o pão das esmolas. Essas esmolas, repartidas no sábado, eram constituídas por pão, carne e, algumas vezes, vinho, se o mordomo fosse mais abastado. Hoje, raramente, são distribuídas estas esmolas, mas sim um prato de arroz a quem contribui com as ofertas em géneros ou dinheiro para ajudar no jantar. Em relação ao pão e à massa, atualmente são cozidos nas padarias locais.
Na sexta, decorria a chamada “folia do gado” que consistia num cortejo em que o gado, a ser abatido para a festa, era enfeitado e percorria o lugar acompanhado por tocadores, cantadores e população em geral. Após a morte do gado, era confecionada a molha de pé, servida no almoço do dia seguinte para todos os que estão a trabalhar. Também no sábado, é preparada a carne e feito o arroz doce. Na madrugada de Domingo, dá-se início à confeção das sopas que são servidas depois da missa aos participantes na coroação, familiares e convidados, acompanhadas de carne cozida, arroz doce e massa sovada. Antigamente, fazia-se carne assada que era servida depois da sopa e antes do arroz.
Os bolos de véspera eram oferecidos pela população. Cada família contribuía consoante o número de pessoas que constituía o seu agregado familiar, porém esta tradição foi desaparecendo sendo os bolos, atualmente, adquiridos nas padarias.
Para estes “gastos” iniciavam-se os trabalhos mais cedo com a confeção do “doce branco”, que era mantido em lençóis ou panos brancos, que eram mudados todos os dias. Para completar o prato de doce, era também feita a espécie e o pão leve. Para os “gastos” do Espírito Santo e Trindade era cozido um pão para a Coroa, que era diferente, por ser muito temperado e de grandes dimensões, o qual era partido em fatias e distribuído com um pedaço de carne no final do arraial, costume este, que é só conhecido aqui no lugar dos Biscoitos, chamado de “distribuição da fatia”. Segundo informação recolhida, a “distribuição da fatia” era feita pelos mais necessitados, existindo mesmo, junto à igreja, um muro que era chamado “a banqueta da fatia”. Atualmente, a fatia é partilhada com todos aqueles que se encontram na festa.
A par das festas do Divino Espírito Santo, no Sábado da Trindade realiza-se a festa dos tremoços, organizada por uma mordomia nomeada todos os anos, seguindo a ordem de disposição das casas nesta Freguesia dos Biscoitos. Esta festa consiste num cortejo formado por um carro de bois enfeitado que transporta os tremoços, que já foram cozidos, seguido por tocadores cantadores e restante população. O cortejo sai da Relvinha percorrendo o lugar dos Biscoitos. Parando junto à igreja onde é servida uma refeição a todos os presentes. Pela noite dentro, realiza-se o tradicional baile regional.
Nos Domingos do Espírito Santo e Trindade, a coroação distingue-se das outras pelos cavaleiros e pelo imperador, que são, respetivamente, quem leva a bandeira e as duas varas encimadas com flores e por quem transporta o prato da coroa, sendo estas as figuras principais do arraial, pois os “cavaleiros” ou “passeadores”, procedem à distribuição do doce e da “fatia” e o imperador fica no império a receber as pessoas que, durante a tarde, passam no arraial e são convidadas a entrar para saborear os doces, a carne, a massa sovada e o arroz doce que aí se encontra.
Nas últimas décadas, esta festa atingiu grande popularidade sendo que nela participam, pessoas de toda a ilha.
Aqui nos Açores, estas festas encontraram solo fértil e mantém-se bem vivas, estendendo raízes para as terras longínquas de emigração açoriana. Basta que tenhamos fé e boa vontade para que elas perdurem no tempo, uma vez que além de serem uma religiosidade ancestral que vem dos nossos antepassados, cheia de fé, esperança e sobretudo caridade, são uma tradição tão antiga que vale a pena preservar, dando-lhe continuidade para os nossos descendentes, sempre com o mesmo espírito: fazer o bem, pois foi esse o fim para que foram criadas.”

Estudo efetuado pelo escritor Clímaco Ferreira da Cunha.

 

https://www.youtube.com/watch?v=6p_97UuY0Dg


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