Irmandade do Divino Espírito Santo do Portal

Festa com 123 anos
País: Portugal
Região: Açores
Local: São Jorge
Concelho: Calheta (S. Jorge)
Freguesia: Ribeira Seca
Morada: Largo da Igreja Portal Ribeira Seca 9850 - Calheta
Telefone: 295416446
E-mail: adg@cm-calheta.pt
Ano da Fundação: 1901
Festa proposta por:
Nome: Município de Calheta
E-mail: adg@cm-calheta.pt

“Em tempos idos, a comunidade do Portal organizava dois grupos que se encarregavam da celebração das festas. Um ficava responsável pela celebração do Domingo do Espírito Santo e, o outro, pela Festa da Santíssima Trindade. Estes grupos eram divididos pela garagem do Sr. Armando – a única situada no caminho corrente. Da garagem até à igreja, formava-se o lado responsável pelo Espírito Santo e da garagem até à última casa do Portal, com acesso para a Fajã dos Vimes, o lado da Santíssima Trindade. Havia uma competição saudável e em tom de brincadeira, entre os dois “lados”.
A oração do terço marcava o início da semana da festa. Os mordomos preparavam o altar para a coroa, nas suas próprias casas. À noite era lançado um foguete que avisava as pessoas da comunidade que chegara à hora da oração. O terço era cantado e, posteriormente, brindavam-se os presentes e a noite prolongava-se com bailes e cantorias. Durante a semana, cada casa confecionava 25 bolos de véspera, que levava, nos Domingos do Espírito Santo e da Trindade, para o império. Estes dias de festa eram marcados pela saída da coroação da casa do mordomo, rumo à igreja, onde era rezada a missa e efetuada a tradicional coroação dos mordomos ou seus familiares para, posteriormente, saírem em cortejo para o império, onde os bolos eram benzidos pelo Sr. Padre.
O clima de festa e alegria continuava pela tarde fora, com as pessoas reunidas no adro da igreja. Os mordomos distribuíam bolo, queijo e vinho aos adultos e confeitos às crianças. Noutros tempos, estas festas tornavam-se em verdadeiras oportunidades para os jovens namorarem em segredo.
A tradição continua. Ao chegarmos à noite de segunda-feira, que era a noite da entrega do chamado “ramo” – uma flor retirada dos arranjos florais do Império e colocada num copo de vinho – marcava a chegada dos mordomos que fariam as festas no ano seguinte. Este ritual popular, consistia na entrega deste copo a qualquer homem presente na festa. Os mordomos combinavam entre si a quem o iriam entregar, fazendo o nervosismo crescer entre aqueles que o podiam receber. Naturalmente, os candidatos fugiam, fazendo com que os mordomos corressem atrás deles.
Findo o arraial os bolos que restavam eram guardados sobre os tirantes, até à festa de São João, realizada a 24 de Junho. Nesse dia, as pessoas juntavam-se, novamente, para o arraial, que era, habitualmente, chamado de “carneirada” e onde se partilhavam rosquilhas confecionadas também para esse dia.

Com o passar do tempo, os bolos deixaram de ser cozidos nas próprias casas. As pessoas de ambos os “lados” começaram a juntar-se numa única casa onde houvesse forno suficientemente grande para cozer os bolos. Fazia-se o altar para o Divino Espirito Santo e rezava-se o terço, cuja recitação era oferecida pelo Sr. António Maria Paulo, pessoa de grande culto religioso e muito respeitado no local.
Na terça-feira da semana da festa, iniciava-se a confeção dos bolos. Os mordomos e as pessoas responsáveis pela confeção destes começavam a preparar a massa para esta levedar. Depois desta estar lêveda era lançado um foguete convidando as pessoas que quisessem ajudar a sovar e a fazer os bolos. Este convívio juntava muita gente, num verdadeiro ambiente de festa. No sábado, enfeitavam-se dois carros de bois para o cortejo. Um carro levava os bolos e outro o vinho e seguia-se da casa onde os bolos eram confecionados para o adro da Ermida. Terminado o cortejo, os bolos eram repartidos juntamente com queijo e  vinho, pelas pessoas presentes. A tarde e a noite vividas no adro da igreja eram marcadas pelo toque das violas e violões, das modas regionais e das danças alegres, como a chamarrita.

No Domingo de manhã, o adro da igreja era enfeitado com fitas de papel e arcos com flores para a celebração da missa na ermida e a bênção dos bolos. Nesta altura, não havia o costume das sopas de Espirito Santo, este hábito só apareceu mais tarde. No Domingo e na Segunda-feira, havia arraial, com danças, cantares tradicionais e entrega de bolos. Pela noite dentro, eram entregues “os ramos” aos mordomos da festa do próximo ano. Eram lançados foguetes e os futuros mordomos eram saudados com palmas.
Hoje em dia, a tradição mantém-se. Apenas lhe foi acrescentada a sopa de espírito santo e criou-se o hábito de oferecer comida após o cortejo de sábado e no arraial de Domingo, onde se oferecem pizzas, linguiça, rissóis, galinha frita, churrasco e o tradicional vinho de cheiro.
Esta comunidade desenvolveu-se e expandiu-se de tal forma que a Câmara Municipal, em colaboração com os habitantes e emigrantes, construiu um Salão onde, hoje, são realizadas estas Festas.
Atualmente, a comunidade do Portal decresceu ao nível populacional. Muitas pessoas já faleceram, outras foram residir para as freguesias ou lugares diferentes, mas, na altura das festas, os filhos desta terra continuam a vir e a participar na sua organização, nos trabalhos necessários à sua realização. Aceitam, também, ser mordomos e contribuem com a sua ajuda e o seu amor para o lugar que os viu nascer.
É, com alegria, que as gentes do Portal continuam a viver estas festas, cheias de tradições e vivências que as educam e fazem amar o lugar onde  nasceram, bem como valorizar o esforço daqueles que, ao longo dos tempos, as realizaram.”(a)

(a) Texto da Autoria de Clímaco Ferreira da Cunha

 

https://www.youtube.com/watch?v=5DJt2tBA13Y

https://www.youtube.com/watch?v=cdvnFy5tKJA


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