Irmandade Divino Espírito Santo / Divina Festa – Florianópolis

Festa com 251 anos
País: Brasil
Região: Santa Catarina
Local: FLORIANÓPOLIS
Morada: Rua Emílio Blum, 124 - Centro - Florianópolis - SC - CEP 88020-010
Telefone: 55 (48) 3224-5008
E-mail: festadodivino@ides-sc.org.br
Ano da Fundação: 1773
Festa proposta por:
Nome: Casa dos Açores Ilha de Santa Catarina - CAISC
E-mail: caisc.ilha@gmail.com

Para que os açorianos não ficassem sem o seu pastor espiritual, para que não ficassem sem a celebração do sacrifício da Missa e sem admi­nistração dos sacramentos, embarcaram sacerdotes dos Açores e da Madeira para San­ta Catarina para proveram as novas freguesias. Entre os primeiros clérigos nomeados, encon­tram-se o Pe. Domingos Pereira Telles, natu­ral da Ilha do Pico, Vigário da freguesia de Nossa Senhora das Necessidades; o Pe. Ma­nuel Cabral de Bitancourt, natural da Ilha de São Jorge, Pároco da povoação de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa; o Pe. Manoel de Souza de Menezes, natural da Ilha Tercei­ra, coadjutor da Matriz; o Pe. Manoel Francis­co de Medeiros, natural de Ponta Delgada, Ilha de São Miguel e o Pe. Marcelino de Sousa Abreu, também coadjutor da Matriz, natural da Ilha da Madeira. (In: Cabral, 1970: 103).

Sendo os primeiros padres e párocos provenientes dos Açores e também da Madeira, era natural que as tradições reli­giosas e suas manifestações fossem preserva­das e reproduzidas no correr das gerações.

A Festa do Divino Espírito Santo re­presenta o maior símbolo da presença açoria­na no contexto religioso de Florianópolis. Uma força emblemática de louvor e crença que atravessou o Atlântico e foi guardada no coração da gente açoriana bem junto das sau­dades de suas Ilhas. A sua intensa manifes­tação, envolvendo todas as comunidades do município, alimenta uma tradição secular que, mesmo sofrendo transformações no decurso do tempo, fortalece uma herança comum que nos une aos Açores e ao seu povo.

Na Ilha de Santa Catarina e na área con­tinental realiza-se a Festa do Divino Espíri­to Santo: no distrito sede, Florianópolis, na Capela do Espírito Santo localizada na Pra­ça Getúlio Vargas.

É o Ciclo do Divino que se inicia no domingo de Pente­costes, cinquenta dias após a Páscoa, de acor­do com o calendário litúrgico da Igreja Ca­tólica, nos meses de maio e junho, e que se encerra no mês de setembro.

As mais antigas referências sobre a exis­tência da Irmandade e a celebração da festa datam de 1773, ano da instituição da Irman­dade do Divino Espírito Santo da Paróquia Nossa Senhora do Desterro, e de 1776, ano da realização da primeira Festa do Espírito Santo. Apenas em 1806, se realizou a primei­ra festa da Coroação, sendo o primeiro Impe­rador o Capitão Manoel Francisco da Costa.

O ato da fundação da referida Irmandade contou com a participação de cinquenta irmãos inscritos que contribuíram com uma jóia de 320 réis (uma pataca) de entrada e assumi­ram o compromisso de pagar uma anuidade de 160 réis, “bem como aceitar os cargos que lhes saíssem, conforme consta dos termos lavrados pelo escrivão Agostinho José Mendes dos Reis”, informa Henrique Fontes, que foi seu Provedor de 1929 a 1932 (Fontes. 1965: 129). Entre os primeiros irmãos encontra­vam-se pessoas da maior representação so­cial e política da Capitania da Ilha de Santa Catarina, como o Governador Francisco de Souza de Menezes e sua mulher Dona Cae­tana Ignácia de Azevedo.

A Confraria de homens livres, de caráter religioso e assistencial, a Irmandade tem como finalidade precípua o Culto ao Divino Espí­rito Santo, o aperfeiçoamento dos seus mem­bros, a manutenção da capela e alfaias, a admi­nistração de estabelecimentos pios e a cele­bração da festa de seu Orago no domingo de Pentecostes, conforme se dispões no Capítulo I, Secção I, art. 2°, do seu termo de Compro­misso aprovado a 3 de novembro de 1937:

A Irmandade festejará o seu Orago no domin­go de Pentecostes, com comunhão geral, missa can­tada, sermão do Evangelho, Te-Deum e novenas. Estas solenidades terão lugar no todo ou em par­te, conforme as condições financeiras da Irman­dade.

A sala do Império que ficava junto à Igre­ja Matriz foi demolida em 1845, sendo subs­tituída por uma nova sala, denominada Ca­pela do Espírito Santo.

Na sua trajetória histórica, a Irmandade enfrentou grandes dificuldades, no que diz res­peito ao relacionamento com as autoridades eclesiásticas. Sobretudo no final do século XIX e no primeiro quartel do século XX. Conside­rada irregular, em 1886, pelo Vigário Padre Manoel Joaquim Alves Soares, voltou a  reorganizar-se somente dez anos depois, sendo aprovada no dia 23 de janeiro de 1896, pelo Vigário Geral Forense, Pe. João Batista de Oli­veira, que deu posse à nova Mesa Administrativa. Neste mesmo ano, a Irmandade co­meçou a planear a criação de um “Asylo de Orphãos Desvallidos”.

A 8 de setembro de 1910, com grande concurso popular e na presença do Governador Coronel Gustavo Richard, a Ir­mandade inaugurou aquela que seria a pri­meira obra social da entidade, o “Asylo de Orphãos São Vicente de Paulo”. Com contra­to firmado com a Congregação das Irmãs da Divina Providência e a Sociedade de São Vicente de Paulo.

No aspecto religioso, sobressai o Culto em louvor ao Divino Espírito Santo, o uso dos sím­bolos (coroa, cetro e bandeira), os rituais de celebração e, principalmente, a Festa do Divi­no com novenas, missas, orações, pagamento de promessas, cantorias, foliões, périplo da Bandeira, folguedos populares e o Imperador, a Imperatriz e a sua corte, revelando práticas coletivas num ritual longo e solene.

Os jornais da antiga Desterro, a partir do século XIX, davam destaque, nas suas pá­ginas, à importância social e religiosa da Fes­ta do Espírito Santo.

No passado como no presente, as Festas do Divino Espírito Santo promovidas pela Ir­mandade caracterizavam-se pelos solenes ri­tuais religiosos e grandes folguedos popula­res que movimentavam toda a Vila de Des­terro e vizinhança.

Ao lado da Igreja Matriz Nossa Senhora do Desterro ficava o Império, vivamente or­namentado com flores e veludo vermelho. Era nesse espaço que se realizavam a entroni­zação do Imperador, a bênção dos pães de pro­messas e se expunham as alfaias do Espírito Santo. Ali também se guardavam os ex-vo­tos de cera, objetos moldados em formato de partes do corpo humano e oferecidos em pa­gamento de promessas ao Divino.

Ao lado do Império, a Irmandade erguia todos os anos uma grande barraca no vasto adro da Igreja Matriz, destinada ao leilão das “promessas” ou ofertas doadas ao Divino nos dias da festividade.

Um mês antes da festividade, os Irmãos da confraria do Espírito Santo, usando balandrau de seda escarlate, com o emblema da Irmanda­de bordado no peito, percorriam as ruas da ci­dade levando a Bandeira do Divino e recolhen­do prendas e donativos. Em algumas moradias eram ser­vidos doces e licores ou vinhos. Todos os pre­sentes beijavam a Bandeira e, havendo doentes acamados, o estandarte era levado para ser bei­jado e para cobrir o enfermo. Ao sair, os foliões cantavam em despedida, agradeciam a doação e com o tambor repicando partiam para a pró­xima visita.

A Bandeira do Divino corria toda a juris­dição da Paróquia a partir da segunda-feira após a Páscoa até às vésperas do dia de Pen­tecostes.

As novenas do Divino começam uma se­mana antes com grande afluência de público que lotava desde o Império, barraca, adro até os recantos da Praça XV de Novembro, situa­da em frente à Igreja Matriz. Após as no­venas, realizavam-se os leilões de prendas e de “massas de promessas”. Eram massas so­vadas e doces em formato de membros, ór­gãos do corpo – pernas, mão, braço, coração, cabeça, seios, que tinham motivado o voto ao Divino Paráclito. A animação ficava por con­ta da arte do leiloeiro em apregoar os lances com entusiasmo até o arremate final e a en­trega da prenda ao arrematante ou a quem o mesmo tivesse dedicado o objeto leiloado como prova de afeição. Tudo decorria num clima de muita animação, com música e quei­ma de foguetes para encerrar a noite festiva.

Com uma duração de três dias (sexta-feira, sábado e domingo) os festejos culmina­vam no domingo de Pentecostes – dia do Es­pírito Santo. Nesse domingo, começava cedo a movimentação para a Fes­ta, com a alvorada de fo­guetel saudando o grande dia. Pela manhã, uma ban­da de música buscava o Imperador que, num “qua­dro de varas” e com gran­de cortejo, seguia em dire­ção à Matriz para a Missa solene da Coroação. Acom­panhavam o séquito impe­rial, os membros da Ir­mandade, festeiros, autoridades e convidados, tendo à frente o Alferes da Bandeira.

Durante a celebração da Missa Solene, com sermão ao Evangelho e Te-Deum em lou­vor ao Orago da Irmandade do Espírito San­to, sucediam a cerimónia da coroação do Im­perador e a bênção dos pães que seriam doa­dos aos que tivessem feito oferendas.

Nessa altura, ao proferir o sermão, o celebrante anunciava do púlpito o nome do festeiro eleito para o ano seguinte.

Terminada a missa, o Imperador coroado e a sua corte eram conduzidos em procissão para o Império, onde tomava acento no seu trono, recebia cumprimentos e onde os devo­tos beijavam o cetro encimado pela pombinha. Por volta do meio-dia, o Imperador e o seu séquito, tendo à frente a Bandeira do Divino e acompanhados pela banda musical, diri­giam-se à casa onde seria servido o banquete festivo oferecido pelo Festeiro.

Ao anoitecer, Imperador e comitiva volta­vam ao Império e assistiam aos folguedos po­pulares que aconteciam no átrio da Igreja.

Eram três dias de intenso festejo, findos os quais tinha lugar uma bonita e artística queima de fogos mandados buscar à Corte ou vindos de um Estado vizinho.

Até às primeiras décadas do século XX, a festa do Divino Espírito Santo no Desterro (Florianópolis), promovida pela Irmandade, manteve-se como o descrito até aqui, com pou­cas alterações ou acréscimos. Como por exem­plo, o papel do Imperador que era desempenha­do por um homem e depois passou a ser por um menino com trajes imperiais, acompanha­do de um pajem. Mais tarde, foram introdu­zidas as figura da Imperatriz, das damas e mais pajens, que formariam a corte imperial.

A Irmandade do Espírito Santo e a sua cape­la foram, por muito tempo, sediadas num es­paço próprio na Igreja Matriz Nossa Senho­ra do Desterro. Primeiro havia o Império e depois a Capela no lado direito do altar-mor. Finalmente, em 1909, foi transferida para jun­to do prédio do Asilo das Órfãos, no arrabalde do Mato Grosso, onde se encontra até aos dias de hoje, junto à atual Praça Getúlio Vargas.

Com o passar dos anos, a pompa e a inten­sidade da celebração foram diminuindo e a Festa sofreu variações locais motivadas por fa­tores religiosos e socioeconómicos. A tradi­ção entrou no século XX enfraquecida, prin­cipalmente no que tange à realização de festas populares junto aos atos litúrgicos pois, em muitos lugares, os folguedos prevaleciam so­bre as cerimónias de caráter religioso.

Mas a festa não desapareceu, continuou sen­do realizada sempre com grande devoção e fé pelos populares e os abnegados Irmãos, man­tendo-se incólumes aos seus ritos tradicionais. Até ao ano de 1983, ela apresentava na sua programação o conjunto de cerimónias reli­giosas: novenas, tríduos, missas e missa sole­ne da coroação, Te-Deum e bênçãos, etc.

Nos treze anos seguintes, ou seja, até maio de 1996, a Festa entrou em declínio e os fes­tejos populares deixaram de ser realizados. A Irmandade, na sua missão de salvaguar­dar o culto e de organizar a Festa, limitou-se a respeitar o disposto no Termo de Compro­misso e no seu Estatuto, ficando-se apenas por realizar a celebra­ção dos atos religiosos, procissão do cortejo e coroação do Imperador, bênção, distribuição dos pães de promessa e pãezinhos do Espíri­to Santo.

No ano de 1996, de 23 a 26 de maio, a Festa voltou com toda a força da tradição. O Casal Festeiro, ao aceitar o compromisso para fazê­-Ia, assumiu, também, o desafio de resgatar os folguedos populares.

A cidade toda  mobilizou-se. A intensa par­ticipação das famílias, das empresas, do co­mércio em geral, originou um sentido de união muito forte e a certeza de que a Festa retornava para ficar, resgatando uma das maiores tradições da nossa terra.

No domingo, dia de Pentecostes, festa do Orago, a alvorada de foguetes saudou a gran­de data. O cortejo impe­rial saiu da sede da Irmandade, dando uma longa volta em torno da Praça, sendo vivamente aplaudido pelos populares. Dirigiu-se à Capela do Espírito Santo onde se realizou a solene celebração da Missa da Coroação, presidida pelo Pe. José Artulino Besen, reitor da Catedral, concelebrada pelo Pe. Valter Maurício Goedert e cantada pelo Coral Santa Cecília, sob a regência do Pe. Nei Brasil.

Após a coroação do Imperador-meni­no, pelo celebrante, o Provedor da Irmandade anunciou o novo Casal Festeiro que, nesse mo­mento, recebeu dos atuais festeiros as alfaias do Espírito Santo. Dada a bênção final, o Imperador e sua Corte, em procissão, diri­giram-se ao consistório, situado junto à capela, onde tinha sido montado um “Império”, que representava a antiga edificação.

O apa­gar das luzes da praça, o fechar das barra­quinhas, o silêncio da noite encerravam mais uma Festa do Divino, desta vez com sabor de reconquista de um espaço que estava guar­dado na memória coletiva.

O nome de, “Divina Festa do Divi­no”, foi adotado pela população e daí para frente passou a denominar a festa, sendo hoje assim reconhecida.

Dessa maneira, a partir de 1996, a Festa do Divino Espírito Santo, na Praça Getúlio Var­gas, foi revitalizada. Em cada edição se expan­de, exigindo maior organização e conquistan­do a posição de ser um dos maiores e mais con­corridos eventos da cidade de Florianópolis e um dos pilares de sustentação financeira da Irmandade.

Nos anos subsequentes, a Irmandade con­tou com a parceria do Colégio Coração de Jesus, o que provocou novas alterações e acréscimos na programação litúrgica: a rea­lização da Procissão Luminosa e Cortejo se­guido de Missa Campal no sábado à noite. No domingo de Pentecostes, pela manhã, após a procissão do Cortejo Imperial, introduziu a solene Missa Campal, em louvor do Espíri­to Santo. Foram criados mais dois cortejos imperiais. Assim, a Festa passou a contar com a Corte Mirim, formada por alunos da Pré­-Escola, que se apresenta na quinta-feira à tarde, e a Corte Infantil,  por alunos da 1″ a 4″ série do Ensino Fundamental, que desfila na sexta-feira à tarde.

 http://www.idespromenor.org.br /

http://www.divinafesta.com

Entre 1747 e 1753, embarcaram cerca de seis mil homens, mulheres e crianças no Porto de Angra, na Ilha Terceira com destino a Santa Catarina. Foram quatorze viagens, realizadas por seis navios diferentes. A viagem pioneira percorreu 8.000 km e aportou na baía norte da Ilha de Santa Catarina em 6 de janeiro de 1748 (Dia dos Reis Magos).
Em 10 de junho de 1773 fundou-se a Irmandade do Divino Espírito Santo – IDES, instituição católica, sem fins econômicos, sediada em Florianópolis. Em janeiro de 1774, chegaram de Portugal a coroa, o cetro e a custódia, objetos que a instituição ainda possui e que são usados por ocasião das comemorações de Pentecostes. Em 1776 realiza-se a primeira Festa do Orago, hoje Festa do Divino Espírito Santo.
Dos Açorianos, herdamos a fé e o culto ao Divino Espírito Santo que, pelo Compromisso da IDES, temos o dever de propagar. Hoje, no município de Florianópolis, a Festa do Divino é celebrada em quatorze comunidades da Ilha e do Continente. Como reconhecimento, a Divina Festa da IDES passou a ser, em 2018, Patrimônio Cultural de Santa Catarina pela Fundação Catarinense de Cultura e pelo Município de Florianópolis.
A Festa do Divino Espírito Santo teve sua origem em Portugal, na Vila de Alenquer, em 1296, por iniciativa da Rainha Santa Isabel de Aragão, esposa do Rei Dom Dinis.
O culto em louvor ao Divino Espírito Santo, celebrado principalmente na Ilha de Santa Catarina e nos municípios litorâneos, é uma tradição secular trazida pelos açorianos que chegaram, na então Vila de Nossa Senhora do Desterro, em 06.01.1748. “O açoriano transportou no coração a religiosidade, a fé e o culto ao Divino Espírito Santo. Uma tradição secular que representa, hoje, a manifestação mais significativa da cultura popular catarinense” (Jornal da Arquidiocese de Florianópolis, edição de maio/2018).
Nesta Irmandade, é conhecida por DIVINA FESTA – A Festa da Família e remonta a 1776, através das chamadas “barraquinhas”, ela tem sido um pilar de sustentação financeira para o desenvolvimento dos Programas de atendimento da Irmandade do Divino Espírito Santo.
Outro objetivo prioritário da IDES é divulgar e incentivar a devoção ao Divino Espírito Santo, mantendo viva essa tradição de religiosidade e fé, hoje presente em quatorze comunidades de Florianópolis, cuja comemoração tem início com o Ciclo do Divino, antes de Pentecostes, e perdura até setembro de cada ano.
A Festa passa constantemente por significativas transformações, influenciadas por critérios de qualidade, tecnologia, beleza e cuidados gerais com os detalhes, para que o resultado seja cada vez mais positivo.
Assim, o evento na versão atual, encontra receptividade e apoio da comunidade, cujas famílias, relembrando os velhos tempos, reúnem-se para celebrar a Festa de Pentecostes.


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