Na parte continental do município de Florianópolis, localizada na direção oeste da Ilha de Santa Catarina, situa-se o populoso Sub Distrito do Estreito abrigando, aproximadamente, uma população de 140 mil habitantes.
A sua história fala da presença dos índios Carijó, existentes em grande número, aí encontrados por Sebastião Caboto, aquando da sua permanência na parte insular da Baía Sul, no ano de 1526. Em 1666, desbravadores portugueses e vicentistas ocuparam a região continental. No século XVIII, chegaram os açorianos e foram estabelecidos no caminho para a Freguesia de São José da Terra Firme, nos pontos fronteiriços à Ilha.
O lugar antes Arraial de Santa Cruz do Estreito, Passagem do Estreito, João Pessoa e, finalmente, Estreito, desenvolveu no passado, atividades agrícolas, pesqueiras e de produção com as suas olarias, alambiques, engenhos, atafonas, curtumes e teares. O estabelecimento dos primeiros núcleos de colonos alemães na região, no século XIX, constitui mais um fator de desenvolvimento da Província.
Muito difere da antiga imagem que, no passado, o definiu como ponto de passagem ou de hospedagem de viajantes que demandavam a sede do governo e apenas aguardavam o transporte ou condições climáticas para fazer a travessia do canal em direção à Ilha-Capital.
A Festa do Divino Espírito Santo, até à década de 50 do século passado, integrava as comemorações da cidade de São José. Os foliões e a Bandeira do Divino eram vistos por todo o bairro do Estreito coletando óbolos para a festa de São José.
A primeira Festa do Divino do Estreito aconteceu em maio de 1955, na Igreja Matriz da Paróquia Nossa Senhora de Fátima e Santa Teresinha do Menino Jesus. Foram escolhidos para Casal Imperador Manoel Alfredo Barbosa e sua mulher Maria das Dores Ávila Barbosa. O casal foi sorteado entre doze candidatos por uma criança que, tendo uma pombinha de prata nas mãos, colocou o biquinho da ave sobre o cartão que tinha o nome dos escolhidos gravado. Esta forma de sorteio continua nos dias atuais, agora pelas mãos de uma criança que integra a Corte Imperial.
As primeiras Festas caracterizavam-se pela visita da Bandeira do Divino, novenas preparatórias, solene celebração litúrgica da missa, com entoação do Te Deum, procissão do cortejo imperial, coroação do menino-imperador, retretas das bandas musicais, barraquinhas e leilões no largo da Igreja Matriz. Uma programação que se desenrolava a partir da sexta-feira à noite até ao domingo, quando era anunciado o novo Casal Imperador.
A Festa do Divino Espírito Santo é, atualmente, a manifestação religiosa mais importante do Estreito. Uma Comissão de Festeiros junto com o Casal Imperador é responsável pela organização e preparação do festejo. Promoções religiosas e sociais são realizadas ao longo do ano, não apenas para angariar fundos como também para incentivar a participação da comunidade a fortalecer a tradição.
A Comissão de Festeiros é formada por um grupo de casais, denominados Casais Festeiros que foram indicados pela comissão do ano anterior e são coadjutores do Casal Imperador no planeamento, organização e execução de toda programação litúrgica e dos festejos populares.
O Casal Imperador é escolhido entre os nomes indicados pela Comissão de Festeiros e a comunidade em concordância com o pároco. O sorteio segue o ritual da primeira Festa realizada em 1955.
A Visita da Bandeira assinala o início do Ciclo do Divino no Estreito cuja festa começa uma semana antes do domingo de Pentecostes para não coincidir com as festas que se realizam na Ilha de Santa Catarina (Florianópolis e Ribeirão da Ilha) e no continente, na região da Grande Florianópolis. Até há bem pouco tempo atrás, o périplo da Bandeira era realizado por um abnegado grupo de voluntárias, lideradas por Dona Maria Portuguesa, que percorria toda a jurisdição da Paróquia visitando casas e coletando ofertas. Ao todo saíam quatro Bandeiras Peditórias. Chegavam às residências, sem foliões ou música, pediam licença para entrar, passavam a bandeira pelos quartos da casa, rezavam orações do Espírito Santo e recolhiam as prendas ou donativos em dinheiro.
No domingo de Páscoa, na missa das 19h00, os “Ministros da Bênção”, pessoas da comunidade, voluntárias que vão coordenar as equipes de Visita da Bandeira, recebem o “Envio” (a Bandeira do Divino). É comum observar-se a presença de músicos e alguns cantores entre as equipes de visita. No entanto, não se trata dos populares Foliões do Divino que, tradicionalmente, acompanham a Bandeira e os rituais da Festa.
O Roteiro da Visita da Bandeira compreende: a chegada e a recepção por parte da família, Oração da Bênção da Casa, Aspersão da casa com água benta, Canto ao Espírito Santo, Oração ao Espírito Santo e Oração Final. Na saída, recebem as ofertas para a festa, objetos ou donativos, fitas como pagamento de promessas que são penduradas no mastro da Bandeira, agradecem as oferendas e partem para a próxima casa.
As Bandeiras do Divino são enviadas no domingo de Páscoa e retornam ao Santuário quando ocorrem as Novenas Preparatórias durante nove dias antes da Festa. Cada noite retornam de duas a quatro Bandeiras, sendo que as últimas o fazem no terminus do dia da novena e o primeiro da festa, ou seja, na sexta-feira.
Na noite de sexta-feira, com a volta de todas as Bandeiras e com o encerramento da novena, é celebrada a Missa de Abertura da festividade. Para cada noite da novena são convidados, como Padrinhos, os Casais Festeiros do ano e nove Casais Imperadores que fizeram a festa no passado.
Na Praça Nossa Senhora de Fátima, na noite de sexta-feira, espetáculos de danças e de grupos musicais assinalam o início dos festejos populares e da programação cultural que contam sempre com apresentações folclóricas e concertos de Banda Musical.
No sábado à noite, acontece o desfile do Cortejo Imperial pelas principais ruas da comunidade do Estreito e a coroação do Imperador. As porta-bandeiras abrem caminho para a Corte Imperial, seguida do Casal Imperador de Casais Festeiros e de convidados em direção ao Santuário para assistirem à celebração da Missa solene em louvor ao Espírito Santo. Na entrada da igreja, as pessoas aguardam a chegada do cortejo em trajes luxuosos ricamente bordados, aplaudindo a sua passagem numa demonstração de religiosidade popular e de respeito aos costumes tradicionais.
Na presença da Corte Imperial, formada por jovens e crianças, filhos ou parentes do Casal Imperador e dos Casais Festeiros, o sacerdote que preside a celebração litúrgica, coroa o jovem Imperador numa cerimónia que recorda o ato instituído pela Rainha Isabel em ação de graças ao Espírito Santo, no século XIII.
Os festejos populares, tradicionalmente contam com barraquinhas de comidas e bebidas, música e sorteio de prendas e vendas de “massas de promessas”, na forma de partes do corpo que deram motivo ao voto. Todos os proventos da festa são destinados às obras sociais e pastorais do Santuário de Nossa Senhora de Fátima. Domingo é o último dia da Festa. Duas Missas Solenes marcam o dia, que começa com o desfile do Cortejo Imperial pelas ruas do bairro, seguidos de celebração de Missa festiva e eleição do casal Imperador do próximo ano.
Na missa de encerramento, no domingo à noite, é anunciado o nome do Casal Imperador escolhido e é-lhe dada posse oficial, pelo que recebe das mãos do Casal Imperador do ano a Coroa e o Cetro, com a missão de dar continuidade à tradição de louvor ao Divino e de respeito ao legado cultural dos seus antepassados açorianos.
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