No aspeto histórico-cultural, segundo os registos da tradição oral, a Igreja de São Sebastião foi construída por uma abastada família da região, muito provavelmente a de Miguel Tavares, revelando a origem luso-açoriana do Arraial de lavradores e pescadores que aí floresceu.
O Distrito do Campeche foi criado a 12 de dezembro de 1995, desmembrado dos Distritos do Ribeirão da Ilha e da Lagoa da Conceição.
A localidade cresceu consideravelmente, atraindo, a partir da década de setenta do século passado, um expressivo número de migrantes nacionais e imigrantes latinos.
O Campeche de hoje, ainda conserva o seu núcleo original, de ambiente simples, típico das vilas de pescadores, e é neste espaço secular, junto à Capela de São Sebastião, criada em 1840, que se realiza a Festa do Divino Espírito Santo.
A primeira festa aconteceu no ano de 1954 tendo como primeiro Casal Imperador José Fermino e Maria Carlota Silva. A sua estrutura organizacional, os símbolos, os rituais religiosos e profanos são semelhantes às demais festas com realização de missas, novenas, procissão do cortejo imperial, coroação do Imperador, sorteio do Casal Imperador, folguedos populares, queima de fogos e o périplo da Bandeira do Divino.
Logo após a Páscoa, começa a visita da Bandeira, que só volta à Capela quando termina a jornada no final de dois meses. A Bandeira percorre toda a jurisdição do Campeche e da Lagoa da Conceição, levada pelos “Irmãos do Santo”. Não existe na localidade a Irmandade do Divino Espírito Santo como confraria legalmente instituída, mas existe um grupo de 22 irmãos que forma uma Irmandade legitimada pelo consenso da coletividade, responsáveis pela “Visita do Santo”.
Toda a “Visita do Santo” é realizada por esses Irmãos e administrada pelo CAEP, atual Comissão de Assuntos Económicos Paroquial, que organiza e administra a Festa.
O grupo que acompanha a “Visita do Santo” compreende uma pessoa que leva a Bandeira (homem ou mulher), três irmãos trajados com uma opa vermelha de algodão e um tocador de tambor que anuncia a sua passagem. Um dos irmãos leva a coroa na salva e os outros dois levam uma tocha acesa e são chamados de “Brilhantes”.
À chegada da Bandeira, reza-se e pede-se a bênção do Divino para aquela família. Também recolhem prendas e donativos para a festa. Muitos pagam promessas pendurando metros de fitas multicoloridas no seu mastro.
Uma semana antes do início da festa, é celebrada a Missa de Abertura e, nas noites seguintes, será cantada, na Capela, a novena do Espírito Santo com a participação da Cantoria do Divino. Na véspera da festa, ocorre a celebração do “envio da Bandeira em procissão iluminada por tochas, para a casa do Casal Imperador. O Casal Imperador e a família recebem na porta da casa a Bandeira com uma grande queima de fogos em sua homenagem. A cantoria do Divino, seguida por populares, entra no recinto, enquanto o Imperador deposita a coroa no altar preparado na sala da casa e é cantada a última novena.
No sábado, ao anoitecer, sai o cortejo da Casa do Imperador, acompanhado por uma Banda musical. O cortejo é formado por oito casais de crianças da comunidade, além do Imperador e da Imperatriz que, geralmente, são filhos ou parentes do casal Imperador. Na capela é oficiada a Missa Solene e, a seguir, a Corte Imperial é conduzida para o Império ou “treato” como é também chamada a pequena edificação situada ao lado da Capela. No átrio da Igreja de São Sebastião e nos barracões tem lugar a festa popular animada com espetáculos de bandas, barraquinhas de comidas, bebidas, pescaria, sorteio de prendas e bingos e leilões de “massa de promessa”. A noite é encerrada com a queima de fogos de artifício.
A Cantoria do Divino está presente em todas as cerimónias coordenando e integrando, pelo canto, os ritos sagrados e profanos na rua, na casa do Imperador e na Capela.
Os atos religiosos culminam, no domingo pela manhã, com o ritual da coroação do Imperador no final da celebração da Missa Solene. No Império, a Corte recebe os cumprimentos dos fiéis.
O almoço festivo com uma intensa programação cultural, marcada com apresentações de canto coral, grupos folclóricos de dança do Pau-de-Fita, Boi-de-Mamão e de conjuntos musicais, alegram o domingo.
No meio da tarde é sorteado o nome do futuro Casal Imperador que irá presidir à festividade, auxiliado pelos Irmãos e membros das pastorais da Capela. Na sua investidura recebe do atual Casal Imperador a Bandeira, a Coroa e o Cetro, símbolos da tradição.
http://www.paroquiadalagoa.com.br