A Vila do Ribeirão da Ilha teve o seu início nos primeiros anos da Capitania, quando Manoel de Vargas Rodrigues, com Provisão Episcopal de 13 de setembro de 1763, edificou, para a sua família e vizinhanças, num sítio da sua propriedade, na localidade então conhecida como “Simplício”, hoje Barro Vermelho, uma Capela sob a invocação de Nossa Senhora da Lapa. O próprio Manoel de Vargas mandou vir a imagem de Nossa Senhora da Lapa.
A Igreja foi construída entre 1763 e 1806 pelos senhores e seus escravos, com pedra, cal e azeite de baleia, vindo da Armação.
Segundo Almeida Coelho, no Governo do Coronel Joaquim Xavier Curado (1800-1806), os moradores do Ribeirão iniciaram, no local onde ainda hoje se encontram, as obras de um belo templo medindo 125 palmos de comprimento e três altares. A sagração do referido templo aconteceu no dia 2 de fevereiro de 1806.
Ao invés de ser elevada à categoria de Freguesia, a 24 de janeiro de 1807, uma Provisão do Cabido do Rio de Janeiro, elevava a Igreja de Nossa Senhora da Lapa à categoria de Capela Curada, com Capelão residente, mas com a condição da comunidade local contribuir com côngruas para a manutenção do mesmo. Foi nomeado Cura o catarinense Pe. Dr. Caetano de Araújo Figueiredo Mendonça Furtado.
Tornou-se Freguesia, por uma Resolução de 19 de janeiro de 1809 e Provisão Episcopal de 15 de novembro do mesmo ano.
Elevada à categoria de Paróquia, o seu primeiro pároco foi o Padre Tomaz Francisco da Costa, filho de uma importante família da Capitania.
Em 1839, passou ao estatuto de Vila e, em 1900, tornou-se Distrito do Ribeirão da Ilha.
Tem como sede a Vila Nossa Senhora da Lapa do Ribeirão ou, simplesmente, Ribeirão da Ilha.
Ao lado da Igreja Matriz, na mesma época de sua edificação, foi construído o Império do Divino Espírito Santo, uma arquitetura singular que conserva, ainda hoje, o seu traçado original.
Cabe referenciar que por ocasião da visita à Província de Santa Catarina, em outubro de 1845, Suas Majestades Imperiais, Dom Pedro e Dona Thereza Maria Christina, estiveram na Igreja Nossa Senhora da Lapa e doaram à paróquia 400$000 (quatrocentos mil réis) para reparos no templo e compra de alfaias. Por esse motivo, acredita-se que a celebração do Espírito Santo no Ribeirão da Ilha seja anterior à augusta visita, dada a religiosidade e os costumes socioculturais açorianos mantidos pelos habitantes desde a sua fundação.
Registos jornalísticos publicados em julho de 1959, por Franklin Cascaes:
Nove dias antes da festa, o imperador levava da igreja para a sua casa a salva com a Coroa e o Cetro, acompanhado pelos irmãos, as duas bandeiras, os foliões e o povo e dava início ao novenário que se prolongava até sexta-feira daquela semana da festa. (…)
No sábado da festa um pouco antes da novena, os irmãos usando opas vermelhas, com velas acesas, a diretoria da irmandade, o sacerdote, os foliões, a música e o Povo, partiam da Igreja com destino à casa do Imperador (…) e era feito o convite para ir até a igreja assistir à novena e dar início aos festejos do Divino.
Sua alteza aceitava o convite e acompanhado pela esposa e sua comitiva, tomava lugar no centro do cortejo e dirigiam-se para a igreja. (…)
No passado, existia a Guarda Imperial, formada por quatro “vereadores” ou “brilhadores” que levavam as varas do quadro e por três pajens que levavam a coroa, salva e uma espada embainhada. O Imperador com a sua mulher e os pajens iam no quadro formado pelas varas enfeitadas com fitas. Atrás seguiam as Bandeiras, o Provedor, membros da Irmandade, o padre, os foliões e o povo. Os foliões tinham um papel destacado, eram eles que orientavam o ritual sacro-profano no cortejo, dentro da Igreja, no Império, na casa do Imperador, pelas ruas e praças, no sábado e no domingo da Festa, entoando a sua cantoria em louvor ao Divino.
Era costume, também, no domingo de manhã, depois do terço, o Imperador distribuir alimentos aos pobres da freguesia. Inclusive, muitos Imperadores seguiam à risca a tradição da partilha do “bodo”. Mandavam abater dois ou mais bois e doavam a carne entre as famílias do lugar, um costume que há muito tempo deixou de ser praticado.
Ainda foram introduzidos os personagens do “Imperador-mirim” e da “Imperatriz-mirim” que, junto com os pajens e damas, constituem a Corte Imperial. O Imperador e a sua mulher formam o “Casal Imperador” e são responsáveis pela realização da festa. Noutras localidades são denominados de “Casal Festeiro”.
Ao chegarem à Capela do Divino as moças colocam as Bandeiras ao lado do altar.
Os Pagens sentam-se nas cadeiras do trono. O Imperador entrega o Cetro para o Imperador-Mirim e a Espada para a Imperatriz-Mirim e coloca a Salva com a Coroa sobre o altar entre flores e velas acesas. Ambas as crianças usam roupagens reais.
Os fiéis ostentando as suas promessas ajoelham-se em frente ao menino Imperador, beijam o Cetro e depositam as suas oferendas no altar ao pé da Coroa, ainda beijam as duas Bandeiras.
Na praça fronteiriça à Igreja e ao Império, que se acha soberbamente ornamentada com palmeiras, arcos de bambú, bandeiras de pano e de papel, flores, etc., reina grande alegria entre o povo que veio homenagear o Divino Espírito Santo. (…)
As arrematações são das promessas que o Divino recebeu no Império, e consistem em cabeças, pés, mãos, pernas, braços, corpo, etc., de massa, e também, de ovos, aves, animais, frutas, objetos apregoados por leiloeiros afamados do lugar, sempre com muito humorismo. (…)
Depois da queima dos fogos de artifício, o Imperador com toda a sua comitiva voltava a sua residência e faziam orações ao Divino diante do Altar montado em sua casa para receber a Salva com a Coroa, o Cetro e a Espada, e as Bandeiras.
Um olhar sobre a Festa nos dias atuais revela a existência de práticas coletivas de se comemorar o Divino que nos remetem à tradição açoriana ainda sobrevivente e que a caracteriza como uma das mais autênticas manifestações religiosas do município.
Logo após o domingo da Páscoa, começa o périplo da Bandeira peditória, percorrendo a Armação, o Morro das Pedras, Pedregal, TaIpera, Barro Vermelho, Freguesia do Ribeirão, Sitio do Ribeirão, Costeira do Ribeirão, Caiacangaçu, Tapera da Barra do Sul, Caieira da Barra do Sul, Naufragados. Acompanha a Bandeira do Divino um grupo de quatro pessoas. Uma leva a Bandeira, outra a salva, uma terceira representa a Irmandade e a quarta leva o tambor anunciando a chegada e a partida. A Caieira da Barra do Sul é a única comunidade que conserva o costume do “pernoite” da Bandeira e a realização da novena cantada na casa em que ela pernoitar.
O Grupo da Folia do Divino foi formado há quase trinta anos.
Hoje, retomou-se o costume antigo e as novenas realizam-se tanto nas comunidades, quanto na casa do Imperador.
À Comissão Administrativa Económica Paroquial e ao Casal Imperador, responsáveis pela realização da festa, competem o planeamento e organização dos festejos. A Corte Imperial é formada por crianças da comunidade convidadas pelo Imperador e, geralmente, o Imperador-menino e a Imperatriz-menina são crianças ou adolescentes da sua família.
É uma festa dispendiosa, com despesas efetuadas com o aluguer da roupa da corte, a ornamentação da Igreja, do Império, das ruas, da praça, com a queima de fogos, contratação de “shows” musicais e artistas para animar a noite de sábado e domingo. Todos proventos da Festa revertem a favor das obras e manutenção da Paróquia.
http://www.nossasenhoradalapa.org.br
A Festa do Divino Espírito Santo da Paróquia Nossa Senhora da Lapa é realizada na Matriz Nossa Senhora da Lapa na freguesia do Ribeirão da Ilha.