As festas do Divino Espírito Santo fazem parte da história de Santo António da Patrulha, desde o seu povoamento e vem, há mais de 200 anos, eternizando-se com os seus rituais, mas incorporando uma multiplicidade de manifestações da cultura local.
Pode dizer-se que as festas são uma repetição e, ao mesmo tempo, uma renovação que não se esgota, num processo onde se identificam mudanças e permanências.
Muito da história das primeiras comunidades se identifica com a fé dos seus povoadores. A religiosidade constitui-se numa das marcas mais expressivas da herança dos nossos antepassados açorianos, vindos para o Rio Grande do Sul no século XVIII.
A vida no Arquipélago dos Açores exigia, e continua a exigir, sobrevivência à distância do continente e essa relação tão intensa com a natureza, acentuou no açoriano a fé, a devoção aos santos e especialmente o culto à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, o Divino Espírito Santo.
Essas manifestações religiosas acompanharam os ilhéus para o sul do Brasil e aqui fizeram-nos suportar as provações, com tantas promessas não cumpridas pela Coroa Portuguesa. Além das promessas havia recomendações, entre elas, uma sobre a construção de capelas nos povoados. No caso de Santo António, o casal Inácio José de Mendonça e Margarida da Exaltação da Cruz, atenderam ao pedido do bispo Frei António do Desterro, da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, em documento de 4 de setembro de 1756. Com a invocação de Santo António, ergueram uma capela na sua fazenda (1760 ) onde hoje fica a “Pira da Pátria”, em frente à Prefeitura Municipal.
A 7 de outubro de 1763, a capela foi elevada a Igreja Matriz, ao ser instituída a freguesia de Santo António da Patrulha.
Assim, a religião católica acompanhou a formação do nosso município, destacando-se especialmente nas festas em honra ao padroeiro e ao culto do Divino Espírito Santo, a mais significativa devoção. “A festa do Divino ocorre no nosso município desde 1778, sendo a mais antiga do Rio Grande do Sul português, comprovada através de documentos” (Figueiredo, 2000, pág. 403).
Essa tradição religiosa apresentava uma simbologia especial: levantamento do mastro, bandeiras, resplendor, Coroa e Cetro, Imperatriz, orações e hinos, novenas ou tríduos, missa solene no domingo festivo e procissão. Além da programação espiritual, havia os aspectos mais profanos ou de caráter mais folclórico: Folia: homens a cavalo com a bandeira e tambor para anunciar a visita, realizar a coleta, percorriam a sede e o interior do município. Assim acontecia a divulgação da festa. No domingo festivo realizava-se, após a missa, a queima de fogos, o churrasco, leilões, bailes, culinária (assados, doces, bebidas), Cavalhadas, Baile de Masquê…
A coroa, o cetro e a capa são apresentados anualmente na tradicional participação do “Quadro das Mordomas e da Imperatriz Coroadeira”, na missa e na procissão da festa, tradição que se repete desde 1872, quando da sua aquisição pelo festeiro daquele ano, para a sua filha compor o quadro”.
A apresentação da Imperatriz e o seu quadro remete à história da Rainha Isabel de Portugal e à sua devoção ao Divino Espírito Santo, pelo milagre alcançado com o retorno da paz ao reino.
Até à primeira metade do século passado, as festas eram para o povo, com distribuição gratuita de churrasco, bebidas e doces à vontade.
Gradualmente, as comunidades foram assumindo a manutenção, reformas, ampliações e novos investimentos nas suas paróquias. Assim, as festas passaram a ter, além da religiosidade, mais necessidade de arrecadação.
Em Santo António da Patrulha, no início da década de 1990, as festas de Santo António e do Divino foram unificadas, pela proximidade das datas, Pentecostes e Santo António, motivando a escolha para os festejos culminarem no domingo mais próximo do dia 13 de junho, dia do padroeiro.
A tradicional festa ganhou novo ardor, trazendo a cada realização, um novo tempo, que parece eternizar-se em momentos de grande espiritualidade, intercalados por momentos folclóricos que não se esgotam, mas modificam-se e atualizam-se em múltiplas programações.
Com originalidade, a vida cristã e cultural da nossa cidade enriquece-se. Cada novo grupo de festeiros adquire uma empolgação crescente, com o desejo de obter sucesso sempre maior, procurando aproximar novas manifestações ou resgatar antigas tradições.
As festas “de hoje”, com as suas mudanças, ampliam as possibilidades de maior mobilização da comunidade em torno dos festejos, que neles se identifica e se envolve, garantindo a permanência da devoção ao padroeiro e ao Espírito Santo.
Constata-se que há expressões duradouras: a religiosidade dos patrulhenses, o comprometimento dos festeiros, os rituais – novenas ou trezenas, missas, procissões, bandeiras que visitam as casas, Resplendor do Divino, Quadro da Imperatriz com as suas Mordomas , Aias e Pajem.
Já as inovações dão uma nova identidade cultural às festas, articulando religiosidade e tradições patrulhenses. Tem-se então: tropeiros do Divino, grupo que visita o interior do município a cavalo, convidando para os festejos, abençoando as casas e recolhendo ofertas. São sete grupos representando os dons do Espírito Santo. Temos os noveneiros, trezenas com conferências temáticas, Sopão do Divino (sopa gratuita à comunidade), almoço e baile da melhor idade, jantar baile, carreata pelas ruas da cidade, resgate e homenagem aos ex-festeiros, santo antoninhos, distribuição de pãezinhos bentos, bingo, rifas…
A convivência que se estabelece entre os festeiros, os organizadores e os devotos cria uma nova qualidade no tempo, permitindo que se experimente um mundo de encontros, de partilha e de esperança. Certamente é o fervor que o Espírito Santo infunde nessas pessoas, inflamando-as com o seu poder. E mesmo depois de passada a festa, ainda há o desejo do reencontro, com o retorno das alegres lembranças, dos calorosos abraços, do desejo de não deixar apagar a chama que ficou acesa.